O Bom Exemplo Brasileiro

O governo de Jair Bolsonaro decidiu deixar de divulgar o total de casos e mortes por Covid-19, passando a partilhar somente os dados das últimas 24 horas de cada dia. Esta decisão é tomada na semana em que jornais brasileiros revelaram que o Brasil ultrapassou a fasquia de um morto por minuto por Covid-19 no país.

A recente decisão do governo brasileiro, apesar de não ser a mais controversa desde a tomada de posse de Jair Bolsonaro, não deve passar despercebida, pois demonstra o já conhecido objetivo do atual presidente brasileiro em controlar e manipular toda e qualquer informação a seu bel-prazer, aproximando cada vez mais o Brasil da famosa distopia de George Orwell (sei que a comparação é clichê, mas tão evidente e ilustrativa que não pode ser evitada).

Não é novidade que a gestão da informação que deve estar disponível aos cidadãos é uma característica inerente de estados totalitários, como podemos assistir na República Popular da China e República Popular Democrática da Coreia do Norte (curiosamente estados que adotam um regime comunista, orientação política que Jair Bolsonaro tanto abomina), pelo que esta medida é mais um exemplo do
iminente fim da democracia brasileira (não esquecer a tentativa de influência na polícia federal e o crescente apoio militar).

Os recentes desenvolvimentos no Brasil deveriam por em estado de alerta toda a comunidade internacional (aconselho a leitura do artigo do Público: Brasil: chegou a hora da condenação internacional). O Brasil é a maior democracia da América Latina, e a sua queda terá certamente impactos na ordem internacional, sendo previsível o apoio de Jair Bolsonaro a outros partidos de extrema direita da América do Sul. Se isto não é suficiente para alguns calafrios, não esqueçamos que o governo de Jair Bolsonaro nada fará para proteger a floresta amazónica, basta termos em mente as declarações do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, que numa reunião ministerial propôs que, tirando partido das atenções estarem viradas para o fenómeno Covid-19, o governo adotasse "reformas infralegais de desregulamentação" (o vídeo foi tornado público pelo Supremo Tribunal Federal e pode ser cosultado aqui).

Se dedico o meu final de domingo a escrever este texto, é porque gostaria que o Brasil servisse de exemplo, de um bom exemplo de como a corrupção pode ser o passo para a destruição de uma democracia. Os vários casos de corrupção ligados ao PT (e a violência no Brasil) permitiram que Jair Bolsonaro se apoiasse num discurso populista que, apesar de inteletualmente vazio, garantiu-lhe uma vitória num país desacreditado no poder político.

Portugal não deve olhar para este acontecimento com indiferença, principalmente quando ficamos a saber que Portugal voltou a falhar na implementação de medidas anticorrupção do Conselho da Europa e que o Chega de André Ventura aparece na sondagem da Pitágorica como terceira força política.

Está nas mãos de cada um de nós garantir a manutenção de um Estado de Direito Democrático, contudo, não há dúvidas que os agentes políticos têm um dever acrescido, e o combate à corrupção é um importante passo para evitar o crescimento de partidos populistas anti-democráticos. Pelo que termino este texto voltando a apelar que vejam o exemplo do Brasil, ou como diria um outro senhor "Vejam Bem".

Felipe Correia dos Santos

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